terça-feira, 17 de junho de 2008

PORTA -RETRATO - Sombra do Sol - Fevereiro 2008

Vi teus olhos virarem a esquina da solidão
por um instante eterno de saudade
fui poeta
fui herói da ilusão
que desafiou a saudade
deixou-me de pé na porta da euforia
Vi a solidão parecida
com a do porta-retratos
me fez sentir o gosto do ácido
que flui do aperto do peito
espremido entre o nó da garganta
e a recordação
Fui gente ao mostro do vazio
que deteriora o que quer ser humano
Sentir o gosto doce-salgado
de coisas que não sei dizer
e me colocaram pra dormir
é meio que acalentar no seio da lembrança boa
o coração vivo-morto
Senti teu cheiro impregnado no cheiro do tédio
a inebriar a realidade que se fez de sonho
pra mostrar a recordação
tocando violão no sofá
que eu sei rimar
mas não sei cantar
pro coração dormir
sem perceber as sombras da ausência
assombrando os sonhos
Na minha falta
Fui menor que o grão de areia de Porto
maior que os recifes da faceira e Boa Viagem
a me afogarem na espuma da banheira
feito o que mantinha vivo
pra que'u me visse
no espelho os olhos tristes-alegres
da inspiração que corta por dentro
e se derrama em linhas e rima.

CANÇÃO - Sombra do Sol - junho 2008

Duas doses de insônia e um cubo de solidão por favor
pra espantar a falta de inspiração do bêbado-poeta
embriagado em sua falta de si
a rodopiar sobre a página
dançando com o corpo magro
da sua esquia ilusão esferográfica
vestida em seu vestido especial
como aquele dia cruel
arrisca-se em alguns passos de tolos sonhos
dos mesmos que o mantém vivo
pelo tempo de uma gota de esperança
enquanto no vinil-peito-inimigo
que agora já não bate
espanca
toca uma canção antiga
feito aquele primeiro beijo
com gosto de brilho de morango
e tinta-seca paixão
olhos tinindo em braza
Outra dose de poesia, por favor
Para o poeta-bêbado acalmar
o que lhe inflama a alma dos sonhos
e o atira sobre o travesseiro-seio-do-tempo
acalentando-se.

ÁCARO - Sombra do Sol - Fevereiro 2008

Na página 100
abraçado a rosa
vermelha
murcha
seca
muda
o ácaro ...
a roer o mofo-coração
Aqueles olhos calmos
de um charme vestido em camisetas
tocando as mãos delicadas
do que disparou
pintou-lhe a face de vermelho
Risos perdidos no vento de Julho
O beijo de outro gole de cafeína
Amargo gosto sem gosto
do que joga os olhos educados ao chão
para que não se fale se quer por educação
Não acolhe da queda
A rosa eterna e murcha
Manchou a página
com o sangue da rosa sem vida
escreveu o nome
que o peito negava-se
Saudade sentada em uma nota de rodapé
Abraçou-se a poesia
Abraçou-se a recordação
do instante eterno
Viu a rosa quando ainda era gente
Sorrindo entre os cabelos
da que era anjo
com os olhos de néctar de jabuticaba
Partiu faceira ao lado de um riso
que a levou em casa
Risos solitários
desses que riem da gente ou pra nós
Quando estamos leves
entre as nuvens do amor
ou no purgatório de sensações infernais
Com a rosa viva na mão dos sonhos fantasmas
Ouvindo o silêncio de um ácaro
a roer o mofo-coração.

AMORES ETERNOS - Sombra do Sol - junho 2008

Venha trocar umas palavras
com o silêncio dos mesmos olhos
que um dia se olharam no espelho dos teus olhos
a despirem minha'alma sobre a tua vida em chama
e por aquele instante eterno nos fez ciamêses
sobre o gêmeo amor
a rolar pelo nosso mundo de cortinas coloridas
de paixão saída do forno
ahhhhhh meu amor
venha colher do chão
o corpo quase sem vida
dessa ilusão cretina que ainda mantém vivo
o que agora bate
sem a piedade dos corações enamorados
e nas trincheiras da guerra interior
não diga nada
apenas olhe no fundo dos meus
segure o corpo frágil do último suspiro
da que fere e alimenta
deixe a tristeza partir
sem tomar de nós a ilusão dos amores eternos.

UM DIA ENAMORADO - Sombra do Sol - junho 2008

Nos jardins do asfalto
buquês vermelhos-paixão
no coração a rosa seca ainda viva
regada a lágrima e esperanças
Faróis a confundir
idéias loucas
materializadas no vulto
que no piscar de olhos
estava ali nos braços da maldição dos anjos
que chamou-se amor
Tocou no bolso da calça
vibrou na alma
que a saudade tomou emprestada
pra vestir aquele dia especial
e a agonia daquele maldito-lindo fim de tarde
frustrou-lhe a saudade:
Liguei errado!

Autopsicografia - Sombra do Sol – Junho 2008

O POETA É O INTERPRETE
DO SENTIMENTO E DA RAZÃO
ÀS VEZES PENSA QUE É GENTE
MAS SE CONFUNDE COM A EMOÇÃO
E AQUELES QUE SE PERDEM
ENTRE AS LINHAS DA DOR LIDA
E ENTENDIDA
COMO UM BEM-ME-QUER
FAZEM SALVA DE PALMA PARA A VIDA
QUE AO POETA É SÓ INSPIRAÇÃO
SEGUEM NAS VOLTAS DO TEMPO
GALOPANDO NA COMPANHIA DO CORAÇÃO
COLHENDO NO TEMPO A POESIA.

BORBOLETÁRIO - Sombra do sol - junho 2008

Borboleta-silêncio levou o polém da solidão

pelo jardim dos sonhos da'lma

sentou-se ali

uma taciturna idéia triste

buscando uma cor

para o cinzar do seu azul-redemoinho-poeira ...

pousou de leve no ombro do vazio

a velha amiga colorida

levou-lhe na hipnose do bater de asas

em pouco quem era saudade

vôou nas asas da borboleta poesia

atravessando labirintos-jardins

a borboleta amores é cor de esperança

suas asas partidas não a impedem de voar

a borboleta amores é feito o sonho acordado

tão frágil como a pedra a rolar pra outro lado no riacho

tão forte feito a rocha que abriga a orquidea

tão simples feito o sol amamentando os dias ...